terça-feira, 28 de outubro de 2014

Redação dissertativa

Como construir um texto dissertativo

Procedimentos Básicos

01. Interpretação do tema

Devemos interpretar cuidadosamente o tema proposto, pois a fuga total a este implica zerar a prova de redação;

02. Levantamento de ideias

A melhor maneira de levantar ideias sobre o tema é a autoindagação;

03. Construção do rascunho

Construa o rascunho sem se preocupar com a forma. Priorize, nesta etapa, o conteúdo;

04. Pequeno intervalo

Suspenda a atividade redacional por alguns instantes e ocupe-se com outras provas, para que possa desviar um pouco a atenção do texto; evitando, assim, que determinados erros passem despercebidos;

05. Revisão e acabamento

Faça uma cuidadosa revisão do rascunho e as devidas correções;

06. Versão definitiva

Agora passe a limpo para a versão definitiva, com calma e muito cuidado!

07. Elaboração do título

O título deve ser uma frase curta condizente com a essência do tema.

Orientação para Elaborar uma Dissertação

  • Seu texto deve apresentar tese, desenvolvimento (exposição/argumentação) e conclusão.
  • Não se inclua na redação, não cite fatos de sua vida particular, nem utilize o ainda na 1ª pessoa do plural.
    Seu texto pode ser expositivo ou argumentativo (ou ainda expositivo e argumentativo). As ideias-núcleo devem ser bem desenvolvidas, bem fundamentadas.
  • Redija na 1ª pessoa do singular ou do plural, ou fundamentadas. Evite que seu texto expositivo ou argumentativo seja uma sequência de afirmações vagas, sem justificativa, evidências ou exemplificação..
  • Atente para as expressões vagas ou significado amplo e sua adequada contextualização. Ex.: conceitos como “certo”, “errado”, “democracia”, “justiça”, “liberdade”, “felicidade” etc.
  • Evite expressões como “belo”, “bom”, “mau”, “incrível”, “péssimo”, “triste”,“pobre”, “rico” etc.; são juízos de valor sem carga informativa, imprecisos e
    subjetivos.
  • Fuja do lugar-comum, frases feitas e expressões cristalizadas: “a pureza das crianças”, “a sabedoria dos velhos”. A palavra “coisa”, gírias e vícios da linguagem oral devem ser evitados, bem como o uso de “etc.” e as abreviações.
  • Não se usam entre aspas palavras estrangeiras com correspondência na língua portuguesa: hippie, status, dark, punk, laser, chips etc.
  • Não construa frases embromatórias. Verifique se as palavras empregadas são fundamentais e informativas.
  • Observe se não há repetição de ideias, falta de clareza, construções sem nexo (conjunções mal empregadas), falta de concatenação de ideias nas frases e nos parágrafos entre si, divagação ou fuga ao tema proposto.
  • Caso você tenha feito uma pergunta na tese ou no corpo do texto, verifique se a argumentação responde à pergunta. Se você eventualmente encerrar o texto com uma interrogação, esta pode estar corretamente empregada desde que a argumentação responda à questão. Se o texto for vago, a interrogação será retórica e vazia.
  • Verifique se os argumentos são convincentes: fatos notórios ou históricos, conhecimentos geográficos, cifras aproximadas, pesquisas e informações adquiridas através de leituras e fontes culturais diversas.
  • Se considerarmos que a redação apresenta entre 20 e 30 linhas, cada parágrafo pode ser desenvolvido entre 3 e 6 linhas. Você deve ser flexível nesse número, em razão do tamanho da letra ou da continuidade de raciocínio elaborado. Observe no seu texto os parágrafos prolixos ou muito curtos, bem como os períodos muito fragmentados, que resultam numa construção primária.

Seguem alguns modelos

TEMA: “DENÚNCIAS, ESCÂNDALOS, CASOS ILÍCITOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CORRUPÇÃO E IMPUNIDADE... ISSO É O QUE OCORRE NO BRASIL HOJE.”

Uma nova ordem

Nunca foi tão importante no país uma cruzada pela moralidade. As denúncias que se sucedem, os escândalos que se multiplicam, os casos ilícitos que ocorrem em diversos níveis da administração pública exibem, de forma veemente, a profunda crise moral por que passa o País.
O povo se afasta cada vez mais dos políticos, como se estes fossem símbolos de todos os males. As instituições normativas, que fundamentam o sistema democrático, caem em descrédito. Os governantes, eleitos pela expressão do voto, também engrossam a caldeira da descrença e, frágeis, acabam comprometendo seus programas de gestão.
Para complicar, ainda estamos no meio de uma recessão que tem jogado milhares de trabalhadores na rua, ampliando os bolsões de insatisfação e amargura.
Não é de estranhar que parcelas imensas do eleitorado, em protesto contra o que veem e sentem, procurem manifestar sua posição com o voto nulo, a abstenção ou o voto em branco. Convenhamos, nenhuma democracia floresce dessa maneira.
A atitude de inércia e apatia dos homens que têm responsabilidade pública os condenará ao castigo da história. É possível fazer-se algo, de imediato, que possa acender uma pequena chama de esperança.
O Brasil dos grandes valores, das grandes ideias, da fé e da crença, da esperança e do futuro necessita, urgentemente da ação solidária, tanto das autoridades quanto do cidadão comum, para instaurar uma nova ordem na ética e na moral.
Carlos Apolinário, adaptado

Comentário:

O primeiro parágrafo constitui a introdução do texto (tese).
Os parágrafos segundo, terceiro e quarto constituem o desenvolvimento (argumentação — exemplificação com análise e crítica).
O último parágrafo é a conclusão (perspectiva de solução).

TEMA: 
Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena
(Fernando Pessoa)
Sonhar é preciso
“Nós somos do tamanho dos nossos sonhos. Há, em cada ser humano, um sebastianista louco, vislumbrando o Quinto Império; um navegador ancorado no cais, a idealizar ‘mares nunca dantes navegados’; e um obscuro D. Quixote de alma grande que, mesmo amesquinhado pelo atrito da hora áspera do presente, investe contra seus inimigos intemporais: o derrotismo, a indiferença e o tédio.
Sufocado pelo peso de todos os determinismos e pela dura rotina do pão-nosso-de-cada-dia, há em cada homem um sentido épico da existência, que se recusa a morrer, mesmo banalizado, manipulado pelos veículos de massa e domesticado pela vida moderna.
É preciso agora resgatar esse idealista que ocultamente somos, mesmo que D. Sebastião não volte, ainda que nossos barcos não cheguem a parte alguma, apesar de não existirem sequer moinhos de vento.
Senão teremos matado definitivamente o santo e o louco que são o melhor de nós mesmos; senão teremos abdicado dos sonhos da infância e do fogo da juventude; senão teremos demitido nossas esperanças.
O homem livre num universo sem fronteiras. O nordeste brasileiro verde e pequenos nordestinos, risonhos e saudáveis, soletrando o abecedário. Um passeio a pé pela cidade calma. Pequenos judeus, árabes e cristãos, brincando de roda em Beirute ou na Palestina.
E os vestibulandos, todos, de um país chamado Brasil, convocados a darem o melhor de si no curso superior que escolheram.
Utopias? Talvez sonhos irrealizáveis de algum poeta menor, mas convicto de que nada vale a pena, se a alma é mesquinha e pequena.”
Comentário:
A introdução encontra-se no 1° parágrafo, que faz uma espécie de síntese do texto, funcionando como uma espécie de índice das ideias e elementos que aparecerão no desenvolvimento (sebastianista, o navegador, o D. Quixote).
O desenvolvimento está nos cinco parágrafos seguintes, que retomam e explicam cada uma das ideias e elementos apresentados no inicio.
A conclusão realiza-se no último parágrafo, reafirmando a tese de que somos do tamanho de nossos sonhos e de nossas lutas por nossos ideais, sem os quais a alma seria mesquinha e pequena (e a vida não valeria a pena).
TEMA: “À busca do Brasil de nossos sonhos, travar-se-á uma longa jornada.”

Em busca do Brasil de nossos sonhos

Utopia, talvez seja este o termo que resuma os anseios de um povo que, há mais de quatro séculos, alimenta esperanças de ver seu país constituir-se em um Estado forte e humanitário.
Transformações drásticas e rápidas não correspondem ao caminho a se seguir que será árduo e penoso, entretanto os júbilos alcançados serão tão doces e ternos que terão valido cada gota de sangue e suor derramado.
Muitos são os problemas (corrupção, injustiça, desigualdades...) e suas soluções existem, só não fazem parte do plano político-econômico e social a ser seguido, pois este não há. Generalizar chega a ser infantil e prematuro, mas atualmente não se tem tido conhecimento sobre uma reforma concreta e séria que vise à melhoria de vida da população e que não esteja “engavetada”, ainda em “processo de viabilização”, tal como as reformas agrária e tributária, por exemplo. A justiça no Brasil, além de paradoxal, vem a ser ilusória.
Diversidade de solos, climas, costumes, gente, vários povos misturados em um só, tantos méritos e nenhuma vitória que não tenha sido mais do que temporária. O amor à pátria a cada dia fica mais frágil quando deveria se fortalecer, então o que fazer?
Lutar, não travando guerras ou impondo violência. Reivindicar direitos e estipular deveres requer sabedoria, a liberdade de expressão foi conquistada com muito esforço e perseverança por brasileiros que queriam gritar e não se calar diante da destruição lenta e contínua de seu país.
Valorizar o nosso e melhorar o Brasil depende não da vontade de cada um, isoladamente, mas sim do desejo de todos, afinal são mais de cento e trinta milhões de pessoas com interesses diversos ocupando um mesmo país, e muitas querem vê-lo progredir, no entanto como isso será possível? Optando por um nacionalismo extremado? Talvez. Para haver mudanças é preciso que se queira mudar, um Estado politicamente organizado, quem sabe, este Estado: o Brasil.
Tatiana R. Batista

Como melhorar o Brasil

“E nas terras copiosas, que lhes denegavam as promessas visionadas, goravam seus sonhos de redenção”. Com estas palavras José Américo de Almeida, em seu livro “A Bagaceira”, conseguiu caracterizar um Brasil que, há quinhentos anos, mantém-se o mesmo: injusto e desigual.
Fome e miséria em meio à fartura e pujança, descontentamento e inércia presentes em um mesmo povo. Tantas contradições advêm de um processo histórico embasado em inserir o Brasil no contexto sócio-econômico mundial como um Estado dependente economicamente, subdesenvolvido tecnologicamente, sendo por isso frágil perante a soberania de um sem-número de países que desde sempre deteve o controle supremo de o quê, e como tudo deve ser direcionado.
De colônia à república, sendo monarquia ou não, a aristocracia se mantém presente, forte e imponente, segura habilidosamente “as rédeas” deste “carro desgovernado” chamado, anteriormente, de Terra brasilis. É estranho pensar que um vasto território, em que se afirma vigorar o “governo de todos e para todos” pertença na realidade a um restrito grupo que não deseja alterações de qualquer tipo, por considerar a atual situação do Brasil ideal. O ideal seria desconsiderar tais argumentos, sendo estes inválidos e inadmissíveis, uma vez que altos níveis de desemprego, corrupção, carência nos diversos setores públicos..., não correspondem ao que se espera para haver uma elevação no padrão de desenvolvimento de um país.
A globalização, tão comentada em todo o mundo, só ratifica ainda mais um processo que, aos olhos de todos, parece inevitável: a colonização do mundo, a preponderância de uns poucos Estados politicamente organizados sobre o resto do planeta. O Brasil virando colônia, principalmente, dos Estados Unidos da América. A submissão completa.
Deste ponto de vista (que pode ser o único), a situação se apresenta de forma grave. Alarmante, porém é a falta de soluções.
Pior, talvez seja a falta de interesse em mudanças. Já foram privatizadas a (Companhia Vale do Rio Doce, a Siderúrgica Nacional, logo em breve a Petrobrás e o Banco do Brasil, símbolos da soberania nacional. Vivemos em um mesmo espaço o qual cada vez mais deixa de nos pertencer, estamos enfraquecidos, o nacionalismo se enfraquece se a nação única deixa de existir. Não se pode afirmar que uma atitude revolucionária seja o melhor caminho ou o caminho certo, no entanto a passividade neurastênica da população jamais resolverá nada. O exercício da cidadania é necessária para implantar a verdadeira cidadania. Consciência política e senso de justiça o pior obstáculo a ser contornado é a alienação, consequência da ignorância que cerca a maior parte da população, sem acesso à cultura.
O primeiro passo já foi dado: conhecer os problemas e, mesmo que superficialmente, pensar a respeito. Ufanismo, utopia, sonho, perseverança e luta. A coragem precisa de esperança, o homem precisa de ambas para sobreviver e lutar. Se o povo brasileiro é naturalmente corajoso, lutemos agora para seguir em frente e firmar este país como soberano e forte que é.
Tatiana R. Batista

A corrupção no Brasil

Durante todo o processo de formação cultural do povo brasileiro, o trabalho nunca foi considerado uma atividade digna, a riqueza, mesmo ilícita era a grande nobreza e a comprovação da superioridade.
No período colonial, o trabalho para o português recém-chegado toma-se um ato ignóbil, explorar o bugre e o negro é a maneira de se viver numa terra nova, onde a “esperteza” de sempre tirar lucros e ganhar, mesmo através da trapaça, é considerada uma virtude.
No império e na república oligárquica, a história se repete e sempre está a favor de uma aristocracia, que desrespeita a condição humana, com suas atitudes nepóticas e de extrema fraternalidade entre os iguais mineiros e paulistas.
Nos períodos seguintes, a rede de corruptos se mostra e toma contorno urbanos, onde a população adquire maior intelectualidade e passa a exigir um maior respeito e que pelo menos se disfarcem os roubos contra nossa população de miseráveis e condicionados.
Já cansada pelos quinhentos anos de “falcatruas” justificadas e pela explosão de novas “bombas”, a cada dia a população apercebe-se em fim, do maquiavelismo político e rejeita as soluções prontas e maternais da pátria mãe gentil.
Esperamos que, nos próximos anos, a política brasileira tome-se mais séria, rejeite o dito maquiavélico e trate o trabalho como um meio de ascensão e de dignificação do homem e não como um ato oprobriante.
Tiago Barbosa

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Redação narrativa

Narração (com exemplos)





Características:


Situa seres e objetos no tempo (história).

Estrutura:

- Introdução: Apresenta as personagens, localizando-as no tempo e no espaço.
- Desenvolvimento: Através das ações das personagens, constrói-se a trama e o suspense que culmina no clímax.
- Conclusão: Existem várias maneiras de se concluir uma narração. Esclarecer a trama é apenas uma delas.

Recursos:

Verbos de ação, discursos direto, indireto e indireto livre.

O que se pede:

Imaginação para compor uma história cativante que entretenha o leitor, provocando expectativa. Pode ser romântica, dramática ou humorística.
A narrativa deve tentar elucidar os acontecimentos, respondendo às seguintes perguntas essenciais:
O QUÊ? - o(s) fato(s) que determina(n) a história;
QUEM? - a personagem ou personagens;
COMO? - o enredo, o modo como se tecem os fatos;
ONDE? - o lugar ou lugares da ocorrência
QUANDO? - o momento ou momentos em que se passam os fatos;
POR QUÊ? - a causa do acontecimento.
Observe como se aplicam no texto de Manuel Bandeira esses elementos:

Tragédia brasileira

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência , matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontra-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
Manuel Bandeira
  • O quê? Romance conturbado, que resulta em crime passional.
  • Quem? Misael e Maria Elvira.
  • Como? O envolvimento inconsequente de um homem de 63 anos com uma prostituta.
  • Onde? Lapa, Estácio, Rocha, Catete e vários outros lugares.
  • Quando? Duração do relacionamento: três anos.
  • Por quê? Promiscuidade de Maria Elvira.
Quanto à estruturação narrativa convencional, acompanhe a sequência de ações que compõem o enredo:
  • Exposição: a união de Misael, 63 anos, funcionário público, a Maria Elvira, prostituta;
  • Complicação: a infidelidade de Maria Elvira obriga Misael a buscar nova moradia para o casal;
  • Clímax: as sucessivas mudanças de residência, provocadas pelo comportamento desregrado de Maria Elvira, acarretam o descontrole emocional de Misael;
  • Desfecho: a polícia encontra Maria Elvira assassinada com seis tiros.


SEGUEM ALGUNS MODELOS

O dia que virou um dia

Os primeiros raios de sol, brandos como um leve toque, anunciam um novo dia de uma preguiçosa segunda-feira. Maria acorda, ingere algum pão e café, despede-se da família e se põe a caminhar em direção ao ponto de ônibus. Não tão longe dela, José executa as mesmas ações, porém, não se sabe se desperdiçou os mesmos momentos de adeus.
Maria cumpre mais uma jornada de trabalho e, cansada, roga a volta a casa. Entra então, em um lotação, cujos passageiros a rotina a fez conhecer. José, bandido inveterado, passa o mesmo dia a caminhar, tramar e agir. Todavia, finda-se a data para ele também e, não estando satisfeito com as finanças adquiridas, envolve-se em dantescos pensamentos.
Vem lá o transporte com Maria. O mesmo é avistado pelo marginal, que logo conclui seu plano iminente de execução. E o faz. O aceno com a mão indica ao motorista que pare o veículo e o deixe entrar. As vistas de Maria mudam imediatamente de direção e cruzam-se com as de José. Este segue, como quem mede os passos, ao encontro daquela. Fita-lhe mais uma vez os olhos e estende-lhe os braços. Aquelas magras mãos tocam a moça e, brutalmente, puxam-na para o mais perto de si: tem uma refém.
José anunciou o assalto e obrigou o condutor a parar o cano. Endiabrado, mostra a sua arma e faz com que Maria a sinta na nuca. O tumulto chama, com brevidade, a atenção do povo e, consequentemente a da polícia. E nesta hora que começam algumas negociações. Com prontidão chega a imprensa, que transforma José em o José bem como Maria em a Maria.
Passadas já muitas horas, o bandido põe em prática um novo plano: tentar sair do ônibus com a sua refém. Ouve-se um tiro, que atinge Maria. Vendo que iria ser baleado, José dispara mais três tiros de sua arma, que ferem mortalmente as costas da moça. O criminoso é dominado e posto na viatura, onde sorrateiramente morre. A defunta vira manchete, heroína. Passa-se uma semana e aquela foi apenas mais uma segunda-feira em uma grande metrópole.
Diógenes D’arce C. de Lima

Além do espelho, lembranças

Um dia, quando encerrava meu trabalho, fixei a atenção em um simples objeto da minha sala. Caminhei, paulatinamente, ao seu encontro e, à medida que me aproximava, sentia meu ego explodir em sensações indescritíveis.
Ali, diante dele, parei. Meu reflexo testemunhava as marcas do passado e trazia, à tona, as lembranças da infância e da adolescência. As imagens, agora, misturavam-se, comprometendo minha lucidez. Senti meu corpo flutuar e minha visão apagar-se, de forma que eu me concentrava em recordações, apenas.
Assim, momentos depois, revia meus irmãos e vizinhos correndo em volta da mesa, mamãe fazendo o jantar, papai lendo o jornal, os cães brincando no jardim e, também, meus amigos de colégio, antigos casos amorosos.
Recuperei o bom senso, por um instante, mas não durou mais que isso, pois, novamente, brotam outros pensamentos: o nascimento dos filhos e a ascensão profissional.
Minutos depois, tudo acabara. Diante de mim havia só um espelho, cujo reflexo já não era de um cenário fantasioso de minha mente.
Luana Stephanie de Medeiros

Uma lição de vida

Lembro-me de uma manhã em que descobri um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei algum tempo, mas estava demorando muito e eu tinha pressa.
Irritado e impaciente, curvei-me e comecei a esquentá-lo com o meu hálito. E o milagre começou a acontecer diante de mim num ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu e a borboleta saiu, arrastando-se. Nunca hei de esquecer o horror que senti: suas asas ainda não estavam abertas e todo o seu corpinho tremia, no esforço para desdobrá-las.
Curvado por cima dela, eu a ajudava com o meu hálito. Em vão. Era necessária uma paciente manutenção e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol. Agora era tarde demais. Meu sopro obrigava a borboleta a se mostrar, antes do tempo, toda amarrotada. Ela se agitou desesperada e, alguns segundos depois, morreu na palma de minha mão.
Acho que aquele pequeno cadáver é o peso maior que tenho na consciência. Hoje, entendo bem isso: é um pecado mortal forçar as grandes leis.
Não devemos nos apressar, nem ficar impacientes, mas seguir confiantes no ritmo eterno.
Nikos Kazantzakis

O engano

Um estudante, em viagem ao interior, ao passar por uma loja, entrou e comprou um presente para sua namorada. Escolheu um lindo par de luvas. Depois pediu para embrulhar, na hora de embrulhar, a moça cometeu um engano, trocando o par de luvas por uma calcinha. O estudante, não tomando conhecimento, mandou o embrulho e a seguinte carta:
Vitória, 5 de maio de 1976.
Querida, sabendo que no próximo dia 12 é dia do seu aniversário, resolvi mandar-lhe um presente; sei que irá usar, pois todo o tempo em que estivemos juntos, nunca a vi usando. Não sei se você vai gostar da cor e do modelo, mas a moça da loja experimentou e ficou boa.
É um pouco larga na frente, mas ela disse que era para a mão entrar melhor e os dedos moverem-se mais à vontade. É bom que, depois de usá-la, vire-a ao avesso e ponha um pouco de talco para evitar o mau cheiro. Espero que goste, pois vai cobrir aquilo que eu irei pedir um dia.
Aqui termino, mandando um beijo bem profundo naquilo que o presente irá cobrir.

Redação descritiva

Descrição (com exemplos)


Características

Situa seres e objetos no espaço (fotografia).

Estrutura

Introdução - A perspectiva do observador focaliza o ser ou objeto e distingue seus aspectos gerais.
Desenvolvimento - Capta os elementos numa ordem coerente com a disposição em que eles se encontram no espaço, caracterizando-os objetiva e subjetivamente, física e psicologicamente.
Conclusão - Não há um procedimento específico para conclusão. Considera-se concluído o texto quando se completa a caracterização.

Recursos

Uso dos cinco sentidos: audição, gustação, olfato, tato e visão que, combinados, produzem a sinestesia. Adjetivação farta, verbos de estado, linguagem metafórica, comparações e prosopopeias.

O que se pede

Sensibilidade para combinar e transmitir sensações física (cores, formas, sons, gestos, odores) e psicológicas (impressões subjetivas, comportamentos). 

Seguem alguns exemplos

Descrição de Pessoa

O grande homem da fé cristã

Considerado símbolo de fé, amor e perseverança, Jesus Cristo pode ser tomado como um dos maiores revolucionários que o mundo já conheceu. Ele provou a uma sociedade hipócrita e primitiva que um homem não se faz de seus matérias, mas do seu valor moral.
Em sua tênue expressão facial, Jesus sempre tinha um belo sorrido resplandecente. Seu carisma e simplicidade atraíram para si diversos seguidores, bem como inimigos. Ele propôs uma nova filosofia de vida, baseada no amor ao próximo, o que constratou com as leis do povo judeu, as quais se baseavam no ódio aos inimigos.
A sua crescente popularidade foi notável, principalmente entre as camadas mais pobres daquela sociedade, que o viam como um messias e adotaram suas palavras como religião. Nascia aí o Cristianismo, que em princípio fora duramente reprimido pelo governo romano, o qual dominava, naquela época, a Palestina. Indo de encontro aos interesses de Roma, e atraindo para si cada vez mais seguidores, mesmo fora daquela região, Jesus Cristo findou sua vida por meio da mais extrema penalidade que poderia ser aplicada a um réu: a crucificação.
Adjetivar Jesus Cristo grandiosamente tornar-se-ia uma forte digressão, todavia deve-se por no devido relevo o grande legado deixado por ele pra as religiões cristãs. Por seus constantes exemplos de amor ao próximo, de humildade e simplicidade, Cristo pode ser tido como modelo de perfeição mortal entre os homens.
Diógenes D´Arce Cardoso Luna

Darcy Ribeiro

Um dos mais brilhantes cidadãos brasileiros, Darcy Ribeiro provou ao mundo que um homem de nada mais precisa além da coragem e da força de vontade para modificar aquilo que, por covardia, simplesmente ignoramos. Ouvi-lo, mesmo que por alguns instantes, nos levava a conhecer sua sabedoria e simplicidade, era um verdadeiro intelectual cuja convivência com os índios o fez adquirir invejável formação humanística.
Darcy tinha a pele clara, olhos negros e curiosos, lábios finos e trazia em seu rosto marcas de quem já deixou sua marca na história, as quais harmoniosamente faziam-lhe inspirar profunda confiança. Apesar de diabético e lutar contra dois cânceres, não fez disso desculpa para o comodismo ante a seus ideais maiores, ele sabia o que queria, e não mediu esforço para conseguir.
Com seu espírito jovem e obstinado, Darcy Ribeiro estava sempre aprendendo e ensinando, ele sabia como ninguém pensar com serenidade e defender aquilo em que acreditava, porém era realista o suficiente para não se perder em "devaneios utópicos".
Acima de tudo, ele amava as crianças do Brasil, e em nome dessas fundou os CIEPs, no Rio de Janeiro, tendo também participação fundamental na criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Seus esforços foram reconhecidos internacionalmente, valendo-lhe prêmios e homenagens por instituições de diversos países. Devido ao seu carisma, destacou-se como etnólogo, antropólogo, político, educador, escritor e historiador; tendo vários livros publicados.
Mais que uma sucessão interminável de adjetivos pomposos, Darcy Ribeiro representou um exemplo a ser seguido por qualquer um que tenha a consciência de seu dever para com a sociedade a que pertence. Portanto, homenageá-lo é dever de cada brasileiro.
André Luiz Diniz Costa

Descrição de Objeto

Clarinete

Um elemento clássico e imprescindível num concerto, o clarinete, com seu timbre aveludado, é o instrumento de sopro de maior extensão sonora, pelo que ocupa na banda de música o lugar do violino na orquestra.
O clarinete que possuo foi obtido após o meu nascimento, doado como presente de aniversário por meu bisavô, um velho músico, do qual carrego o nome sem tê-lo conhecido. O clarinete é feito de madeira, possui um tubo predominantemente cilíndrico formado por cinco partes dependentes entre si, em cujo encaixe prevalece a cortiça, além das chaves e anéis de junção das partes, de meta. Sua embocadura é de marfim com dois parafusos de regulagem, os quais fixam a palheta bucal.
Sua cor é confundivelmente marrom, havendo partes onde se encontra uma sensível passagem entre o castanho-claro e o escuro. Possuindo cerca de oitenta centímetros e pesando aproximadamente quatrocentos gramas, é facilmente desmontável, o que lhe confere a propriedade de caber numa caixinha de quarenta e cinco centímetros de comprimento e dez de largura.
Com pouco mais de um século, este clarinete permanece calado, latente, sem produzir sons nem músicas, pois, não herdei o dom de meu bisavô e nunca me interessei por este tipo de instrumento, mas, quem sabe se daqui a alguns anos não aparecerá um novo João Rodolfo, que herde ao mesmo tempo, de seus bisavô e tataravô, respectivamente, o instrumento e o dom.
João Rodolfo Cavalcanti A. de Araújo

Um lugar inesquecível

Localizado no Estado do Piauí, entre as cidades de São Raimundo Nonato e Coronel José Dias, encontra-se um dos locais mais bonitos do Brasil, o Parque Nacional Serra da Capivara, caracterizado pela sua paisagem exuberante e seus "mistérios" históricos.
Declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, este parque sensibiliza qualquer indivíduo que o visita. Suas rochas com formatos especiais, os diferentes animais silvestres e a impressão de estar há milhares de anos nos causam fortes sensações.
Os desenhos e pinturas nas cavernas e partes de esqueletos são também urna atração espetacular. Termos noção dos raros vestígios dos povos mais antigos da América é um fato marcante. Estudos revelam que a região da Serra da Capivara era coberta por densa floresta tropical. Hoje, sua vegetação é diferente, mas não apaga o aspecto de floresta.
Turistas de todo o mundo visitam o parque com frequência. Lamentavelmente, os turistas brasileiros são os que possuem menor índice de visitas, até porque não damos valor às belezas naturais e culturais que encontramos em nosso próprio país.
Hildegarda